quinta-feira, 29 de junho de 2017
A FLICKERING TRUTH — Memórias Ignoradas
Das cinzas de uma nação fustigada por anos de conflitos armados, instabilidade política, ocupações norte-americanas, assim como pela sucessiva exaustão dos seus recursos humanos e criativos, Ibrahim Arify — enquanto director do Afghan Film Archive — procura renascer a memória do seu país por via das mais de oito mil horas de filme votadas ao abandono num decadente hangar em Cabul.
Pela lente da realizadora neo-zelandeza Pietra Brettkelly, cedo percebemos que Arify encetou numa fundamental missão, árdua e ingrata, condicionada por uma (ainda notória) complexa mentalidade afegã, mas plena em recompensas. Cada bobine reencontrada, restaurada à sua capacidade "projectável" e visualizada, revela-se uma fonte de surpresas, de pequenas delícias narrativas (visualmente, EPIC OF LOVE, de Latif Ahmadi, despertou-nos singular curiosidade) ou surpreendentes testemunhos históricos.
Talvez inadvertidamente, o principal valor que Brettkelly consegue ressalvar em A FLICKERING TRUTH — documentário com tanto de pungente como de excessivamente melodramático — é a qualidade resiliente da película enquanto formato de arquivo por excelência, de uma literal resistência à prova de guerra, e detentora da peculiar habilidade de se esconder da insensatez humana; pois naquele hangar, esquecido para o resto do mundo durante décadas, conservou-se praticamente sozinha a identidade cultural do Afeganistão, agora pronta a ser resgatada e partilhada com as gerações vindouras do país.
Estas boas notícias da película como marco histórico, estes achados incríveis são sempre das melhores notícias cinéfilas que nos podes dar.
ResponderEliminarObrigada.
Cumprimentos cinéfilos :*