terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Oscars 2013 e o progressivo afastamento da película


Robert Richardson, director de fotografia nomeado por DJANGO LIBERTADO.

No que diz respeito a Oscars, a atenção d'O Síndroma do Vinagre está impreterivelmente focada nas nomeações para Melhor Fotografia. E 2013 revela-se fundamental para a análise da crescente influência do digital nas escolhas da Academia.

Não deixa de ser curioso observar que, dos cinco nomeados nesta categoria, os títulos rodados em película de 35mm estão em maioria:

. ANNA KARENINA (fotografado por Seamus McGarvey)
. DJANGO LIBERTADO (fotografado por Robert Richardson)
. LINCOLN (fotografado por Janusz Kaminski)

Os restantes nomeados — e aqui parece residir o favoritismo a arrecadar o Oscar — são:

. A VIDA DE PI (fotografado por Claudio Miranda, com recurso à câmara digital Arri Alexa)
. 007 — SKYFALL (fotografado por Roger Deakins, com recurso às câmaras digitais Arri Alexa e Red Epic)

Contudo, o nosso principal objecto de reflexão vai para os filmes que não foram nomeados. Curiosamente ou não, as obras que, durante 2012, mais investiram nas potencialidades da película enquanto ferramenta estética e/ou comercial:

. ARGO, de Ben Affleck, fotografado por Rodrigo Prieto que alternou, criativamente, quatro formatos diferentes: digital, Super 8, 16mm e 35mm;
. BEASTS OF THE SOUTHERN WILD, de Benh Zeitlin, fotografado por Ben Richardson num 16mm "naturalista";


. CLOUD ATLAS, de Tom Tykwer, Andy e Lana Wachowski, fotografado por Frank Griebe e John Toll em 35mm, num esforço para alcançar a "orgânica visual" da imagem;
. THE MASTER, de Paul Thomas Anderson, fotografado por Mihai Malaimare Jr. em fulgurante 70mm, tendo o filme sido várias vezes exibido nesse formato;


. O CAVALEIRO DAS TREVAS RENASCE, de Christopher Nolan, fotografado por Wally Pfister em 35mm e IMAX 65mm, o qual ganhou um Oscar em 2010 por A ORIGEM usando estas mesmas técnicas;
. MOONRISE KINGDOM, de Wes Anderson, fotografado por Robert Yeoman com a luxuosa película 16mm da Kodak;


. e SAMSARA, realizado e fotografado por Ron Fricke inteiramente em 70mm, durante quatro anos, em 25 países e cinco continentes.

A percepção da natureza visual dos títulos nomeados, e dos que ficaram de fora, revela-se um interessante exercício que permite tomar o pulso do "duelo" entre a película e o digital. E a sonegação, pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, da criatividade gerada a partir da escolha do formato de origem de um filme — um dos principais critérios de selecção para o Oscar de Melhor Fotografia — não esconde qual dos lados está a dominar.

[Fonte: Tribeca — Future of Film.]

2 comentários:

  1. Excelente destaque, Sam.
    Já tendo tido oportunidade de assistir a grande parte dos filmes que aqui referes, uma das ausências que mais me é difícil de justificar entre os nomeados para melhor fotografia é, como bem referes, The Master.
    E é uma grande pena que o digital vá também, muito provavelmente, triunfar nos Oscars.

    Cumprimentos cinéfilos :*

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  2. Inês, nesta categoria, estou a torcer por DJANGO LIBERTADO ou LINCOLN — nem que seja pelo apego dos seus cineastas em filmar com película — mas não desdenharia a vitória de Roger Deakins, por SKYFALL. Seria um prémio merecido a este director de fotografia, que fez maravilhas com a película (KUNDUN, O BARBEIRO, REVOLUTIONARY ROAD) e nunca ganhou :)

    Mas sim, a "onda" está, cada vez mais, do lado do digital.

    Obrigado pelo comentário.

    Cumps cinéfilos :*

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