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Permita-me o leitor, desde o visitante assíduo das actualizações de imprevisível regularidade do presente blog ou a quem aqui tenha chegado por acasos de navegação, a perturbação à "norma interna" deste espaço, para continuar a discorrer sobre a importância da Preservação Histórica, mas em Cinema e não só a do Cinema — ou o predicado que se poderia definir como a salvaguarda, através do registo por imagens em movimento, de vivências em iminente risco de desaparecimento da memória humana contemporânea e futura.
Nesse âmbito, importa sublinhar THE SHAKERS: HANDS TO WORK, HEARTS TO GOD (1984), documentário conciso mas profuso de Ken Burns, dedicado à história e concretizações da Sociedade Unida dos Crentes na Segunda Aparição de Cristo, também designados por Shakers, como objecto exemplar na análise desta comunidade religiosa composta, à época de produção do filme, por 17 praticantes activos (hoje, "recenseia-se" apenas dois elementos) e distinta, desde o Século XVIII, numa série de campos que marcou, de forma quase invisível, a cultura intrínseca dos Estados Unidos.
É em torno deste património que Ken Burns explana o seu aclamado estilo, numa rigorosa análise fílmica da particular e quase utópica filosofia cativada pelos Shakers: da arquitectura à decoração de interiores, dos hinos às composições de dança (tudo devidamente ensaiado perante a câmara), às metodologias aplicadas na agricultura e manufacturação de bens, do celibato comunitário à adopção de crianças como via para a perpetuação transgeracional, THE SHAKERS revela-se, assim, como importante testemunho audiovisual de uma congregação que se tornou, no seio da voraz aceleração da vida humana ao longo do Século XX, anacrónica e sujeita à ameaça de desaparecer com os seus dois últimos representantes.
Graças a Ken Burns, e enquanto existir a motivação e os meios, independentemente do seu formato, para a reprodução da imagem em movimento, a memória colectiva dos Shakers encontrará garantias de Preservação Histórica.
A preservação da memória cinematográfica ou histórica têm tudo a ver com o Síndroma, sem dúvida. :) Excelente destaque!
ResponderEliminarCumprimentos cinéfilos :*