sábado, 9 de dezembro de 2017

O Cinema de 2017 — Um Balanço em 35mm



Com o aproximar do término de 2017, e embora este não seja o espaço mais propenso a estatísticas nem à delineação de listas evocativas dos últimos 12 meses, o único balanço que efectuaremos terá de recair, obrigatoriamente, sobre a reflexão em torno da presença, durante o ano, da película na produção e distribuição de cinema.

Sem mais delongas, enunciemos os algarismos que nos importam: em 2017, e num universo de 409 estreias em Portugal1, foram exibidos 31 filmes produzidos, inteira ou parcialmente, em película. Se o rácio entre analógico e digital revela o domínio quase absoluto deste último formato, o "saldo" do presente ano demonstra uma ligeira progressão em relação a 2016, durante o qual 26 títulos rodados em película chegaram às nossas salas.

No entanto, é a partir da análise destes singelos 31 filmes que se extraem as mais interessantes conclusões. Para a sua explanação, comecemos por destacar quais foram as produções em película estreadas no país — ordenadas por data de estreia, dispostas por título, realizador, formato e (quando disponível) detalhes técnicos, e onde já se contabiliza STAR WARS: OS ÚLTIMOS JEDI, a última grande "estreia analógica" do ano:



Do rol exaustivo acima apresentado, um pormenor (senão mesmo o mais importante) "salta" imediatamente à atenção: rodagens em película não são um exclusivo de filmes independentes ou de autor. Na verdade, os títulos que maioritariamente recorrem ao analógico são blockbusters de acção, super-heróis e mundos fantásticos, ou realizações pelos indefectíveis da película (Martin Scorsese, Christopher Nolan, James Gray, Aki Kaurismäki e Edgar Wright).

Desta realidade, e perante uma indústria que quase relegou a película ao estatuto de consumada obsolescência, o facto de duas grandes produções baseadas no universo da DC Comics, assim como o mais recente capítulo da saga espacial criada por George Lucas, serem rodadas em 35mm e 65mm, representa o maior elogio que a nossa "era digital" poderia prestar à qualidade de imagem da película.



Outro item de relevo é o domínio prático demonstrado pela Kodak no fornecimento de película para rodagens dos mais variados pontos geográficos ou orçamentos2. E, por inerência, a empresa norte-americana constitui-se, actualmente, como a única grande player especializada neste ramo de actividade.

2018 não deverá reservar alterações de relevo a estas tendências, uma vez que já se perfila um conjunto de títulos3, para os primeiros meses do próximo ano, que continuará a manter o granulado, a qualidade e o charme da imagem analógica bem presentes nas salas de cinema portuguesas. Daqui a 12 meses, aqui estaremos para a respectiva "prova dos nove".

Notas:
1 Conforme dados do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), e de informação recolhida em sites de referência, como o cinecartaz ou o filmSPOT.
2 Fica confirmada a "sobrevivência", anunciada pela empresa em 2015, da produção de filme em 35mm.
3 THE KILLING OF A SACRED DEER (Yorgos Lanthimos), CHAMA-ME PELO TEU NOME (Luca Guadagnino), THE POST (Steven Spielberg), LINHA FANTASMA (Paul Thomas Anderson), WONDERSTRUCK: O MUSEU DAS MARAVILHAS (Todd Haynes)...

Imagens:
1 Fotograma de DUNKIRK, CNN.
2 Fotograma de cópia, em 70mm, de WONDER WOMAN, Music Box Theatre.
3 Cópia em 35mm de BABY DRIVER, Alamo Drafthouse Cinema.

1 comentário:

  1. A película está de volta, cada vez há menos dúvidas, e ainda bem!
    Cumprimentos cinéfilos :*

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