quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Hollywood vs. 35mm — 5ª parte
Film Is Dead? Long Live Movies — How Digital Is Changing the Nature of Movies é o título de um artigo publicado hoje pelo New York Times que analisa o impacto da progressiva conversão ao digital por quem faz e produz Cinema nos nossos dias.
A.O. Scott e Manohla Dargis, os dois principais críticos de cinema daquela publicação, analisam os efeitos de uma revolução que está, como nunca se observou, a alterar significativamente o modo como percebemos um filme. Ficam aqui as principais observações de cada, num artigo de leitura integral obrigatória para os interessados neste tópico cada vez mais propício ao debate:
imagem de THE MASTER, de Paul Thomas Anderson, inteiramente filmado em película de 70mm.
A.O. SCOTT:
«De acordo com uma emergente sabedoria convencional, a película [no original, "film"] acabou. Se assim for, poderemos continuar a apelidar os realizadores de filmmakers? Ou esse título ficará reservado apenas para alguns irredutíveis como Paul Thomas Anderson, cujo novo filme, THE MASTER, foi rodado em 70mm? Não é que o nosso trabalho alguma vez tenha sido criticar o estado de bobinas de celulóide assim que saem das suas caixas; escrevemos sobre as histórias e as imagens gravadas naquele formato. Mas a mudança do fotoquímico para o digital não é uma questão simplesmente técnica ou semântica.»
«A qualidade de imagem melhorou rapidamente, e a última década proporcionou alguns exemplos impressionantes de realizadores que transformaram o digital numa vantagem estética. O plano-sequência de noventa minutos, pelos corredores do Heritage Museum, que compõe A ARCA RUSSA de Alexander Sokurov, é um artefacto especificamente digital. O mesmo se pode chamar à paisagem nocturna de Los Angeles em COLATERAL, de Michael Mann, e os rugosos campos de batalha em CHE, de Steven Soderbergh, nunca existiriam sem a luz, mobilidade e relativa moderação financeira de uma câmara RED.»
«Outra interessante questão filosófica é se, ou até que ponto, [o Cinema] continuará a ser a mesma expressão artística. Poderão as narrativas produzidas e distribuídas em formatos digitais divergir de forma tão radical daquilo a que chamamos "filmes" que não conseguiremos reconhecer uma ligação genética? Irá o novo cinema digital absorver totalmente o seu percursor, ou poderão coexistir? Por mais dramática que esta revolução possa ser, certo é que estamos ainda na sua fase primária.»
imagem de COLATERAL, de Michael Mann, cujas sequências nocturnas foram inteiramente registadas com câmaras digitais.
MANOHLA DARGIS:
«O film da película não é só um imperativo tecnológico; também é uma questão económica.(...) Tal como escreve o teórico David Borwell, 'a conversão dos teatros de 35mm para a exibição digital foi concebida por e para uma indústria caracterizada pela distribuição em massa, saturação do mercado e lucro rápido. Face a este avassalador plano de negócios, o filme em película afigura-se como obstáculo'.»
«Não sou anti-digital, embora prefira a película: gosto do grão e textura visual da película, e mesmo cópias razoavelmente conservadas conseguem ser melhores que uma em digital. E sim, o digital pode ter um aspecto surpreendente se o realizador — Soderbergh, Mann, Godard, David Fincher ou David Lynch, por exemplo — e o projeccionista tiverem esse empenho.»
«A imagem de um filme é criada pela luz que se materializa em algo que existe — existia — em tempo e espaço reais. É nesse sentido que a película se torna testemunha da nossa existência. No entanto, ouvi o grande artista vanguardista Ken Jacobs — que projecta imagens em movimento criadas a partir de obturadores, lentes, sombras e as suas próprias mãos — dizer que o Cinema não está dependente da película; tem de ser magia.»
[Fonte: The New York Times.]
Etiquetas:
35mm,
Alexander Sokurov,
Artigo,
David Fincher,
David Lynch,
Jean-Luc Godard,
Ken Jacobs,
Michael Mann,
Paul Thomas Anderson,
Projecção Digital,
Steven Soderbergh
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Pegando na última frase da tua citação, a película também é magia, e é por isso que não deveria de estar a ser abandonada.
ResponderEliminarArtigo muito interessante, Sam.
Cumprimentos cinéfilos :*
E eu faço minhas as tuas palavras, Inês, quando dizes que "a película também é magia".
ResponderEliminarEstamos totalmente de acordo :)
Cumps cinéfilos :*