sábado, 29 de dezembro de 2018

O Cinema de 2018 — Um Balanço "Analógico"



Na presente época de resumo do ano cinematográfico, e a jusante das dissertações (do melhor ao pior, assim como do mais marcante, imperdível ou absolutamente olvidável, entre outras observações) que têm sido publicadas nos mais diversos meios, O Síndroma do Vinagre volta a direccionar a sua atenção exclusivamente para a listagem de uma das particulares "obsessões" deste espaço: as estreias em Portugal de filmes, inteira ou parcialmente, rodados em película.

Ao longo dos últimos doze meses, as salas de cinema portuguesas acolheram 26 "títulos analógicos". Se por um lado, e comparativamente aos 31 filmes de 2017, regista-se o ténue decréscimo no número de obras rodadas em película, por outro continua a ser notório que essa produção não se cinge a geografias, temáticas ou filmografias específicas. Mas antes de qualquer análise mais detalhada, abaixo se elencam as estreias em película no nosso país — ordenadas pela sua data de estreia e dispostas por título, realizador, formato e (quando disponível) especificações técnicas:


Deste grupo restrito de títulos, e para além dos cineastas "do costume" que já nos habituaram à sua predilecção pela película — Paul Thomas Anderson, Steven Spielberg, Yorgos Lanthimos, Todd Haynes... —, sobressai uma representação considerável de produções europeias, assim como as de cariz independente, num óbvio contraste com a tendência, "apurada" em 2017, de vários blockbusters rodados em 35mm (neste particular, READY PLAYER ONE: JOGADOR 1 e MISSÃO: IMPOSSÍVEL — FALLOUT foram distintas excepções).

A principal consideração a retirar das estreias em película de 2018 será, na verdade, a prossecução do conceito — anteriormente exposto neste blog — de matrizes temáticas, ou seja, a escolha consciente do formato de rodagem em função dos desideratos, conteúdos e narrativas de um filme. O melhor exemplo disto mesmo revelou-se no formalismo de O PRIMEIRO HOMEM NA LUA, de Damien Chazelle, no qual se recorreu ao 16mm, 35mm e 65mm conforme o ambiente (o cockpit do módulo lunar, quotidianos domésticos e a Lua, respectivamente) em que a acção se desenrola. De modo semelhante, a preferência de Spike Lee, em BLACKKKLANSMAN, pelo 16mm Eastman Double-X (ou seja, a preto e branco) e o 35mm Ektachrome espelhou o desejo do realizador em emular o aspecto visual de peças de propaganda racista e do próprio Cinema dos anos 70. E sublinhe-se, ainda, a oportunidade de ver — não obstante a sua limitada distribuição — SPELL REEL (Filipa César), um título que se debruça, quase exclusivamente, sobre o trabalho de arquivo de imagens em suportes analógicos.

Paralelamente ao comentário em torno da relação entre película e opções estéticas, importa constatar as filosofias (certamente alheadas à tese que agora discorro, diga-se em abono da verdade) da distribuição cinematográfica em Portugal para a diminuição, acima referida, de filmes produzidos em película ao longo do ano que agora termina. Em poucos meses, assistiu-se à "recalendarização", ou mesmo supressão, de títulos como CHRISTOPHER ROBIN (Marc Forster), VOX LUX (Brady Corbet) ou DIAMANTINO (Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt) — todos rodados em 35mm.

Todavia, tal não deve ser encarado como motivo para alarme, uma vez que se perspectiva um novo ano com interessante oferta neste formato. Além disso, para os indefectíveis da película, nunca é demais recordar que a Cinemateca Portuguesa mantém projecções regulares em 16mm ou 35mm — e com uma programação, para os meses que se avizinham, inteiramente pensada para a celebração dos 70 anos de existência daquela instituição.

Imagem:
1 Fotogramas de LINHA FANTASMA, Metrograph.

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